Por norma, quem recorre a esta solução já está em incumprimento há vários meses e com valores de dívidas que vão até 150 mil euros.
Acrise tem agravado a situação de sobreendividamento, sendo muitos os agregados familiares que não conseguem cumprir com todos os compromissos financeiros. Quando as famílias se apercebem que já não suportam mais os encargos que têm pensam na consolidação de créditos.
"A procura de crédito consolidado continua a crescer devido ao sobreendividamento das famílias e à diminuição do rendimento disponível", confirma João Martins, director-geral da MaxFinance.
Apesar de não existirem números sobre a evolução da procura, João Martins antecipa que esta "deverá ser superior à procura de crédito pessoal que tem crescido a mais de 3% ao ano". Também Hélder Beça, director-geral da Exchange, instituição financeira que faz consolidação de crédito, admite que a procura por esta opção "tem aumentado" e a tendência até podia ser de crescimento, uma vez que "seria necessário agora talvez mais do que no passado". Porém, nem todos conseguem a aprovação de uma consolidação dos seus créditos. "A disponibilidade das instituições financeiras é muito menor do que há dois anos", o que leva as famílias "a situações de incumprimentos e muitas vezes a optar por soluções de âmbito jurídico", explica Hélder Beça.
Na Exchange, em 98% das famílias, a procura de ajuda acontece já em casos extremos, com o "processo descontrolado e depois de terem arrastado o problema entre dois a seis meses", diz o director-geral da empresa, cujos clientes "têm em média dívidas entre os 100 e os 150 mil euros, tendo o número de credores em média dois créditos em cada instituição", acrescenta.
Já na MaxFinance, os clientes "têm, em média, mais de cinco créditos além do crédito habitação, rondando o valor médio de cada operação de crédito consolidado os 18.750 euros", revela João Martins. Tal como na Exchange, também na MaxFinance, "a maioria das pessoas procura aconselhamento financeiro quando os créditos já estão em mora", sublinha o director-geral da instituição. Nesse âmbito, defende "uma consultoria preventiva para evitar estas situações, que têm sempre custos agravados e são mais difíceis de resolver".
O incumprimento sucessivo durante meses, torna mais complicada a resolução do problema, pelo que João Martins, director-geral da MaxFinance deixa um conselho aos clientes em dificuldades: "Que todos os créditos sejam objecto de renegociação antes de entrar em incumprimento". Quando os clientes apresentam os processos depois desta fase, as instituições financeiras especializadas podem ter um papel preponderante na ajuda à renegociação das operações junto da banca.
Não há dúvida que, actualmente, na base do problema está o crédito mal parado, ao contrário do que acontecia em 2007/2008, em que o consolidado "era feito de forma geral para reduzir as prestações", salienta Hélder Beça, director-geral da Exchange.
Consolidar créditos não traz apenas vantagens
Consolidar créditos pode aliviar as dificuldades financeiras, mas não deve ser uma decisão feita de ânimo leve. João Martins lembra que "o recurso ao crédito consolidado deverá ser sempre uma excepção, pois significa que algo já correu mal. Falhou a consultoria preventiva", diz. O director-geral da MaxFinance garante que nestes casos "o que importa é resolver a situação sem estrangular financeiramente as famílias".
E porque se deve evitar o crédito consolidado? É que a condição mínima exigida "é a disponibilização de um imóvel como garantia ao valor global dos créditos dos clientes, sendo ideal que o imóvel tenha um valor comercial igual ou superior ao dobro do total de créditos", explica Hélder Beça, director-geral da Exchange. Esta imposição leva Vinay Pranjivan, técnico da Deco Proteste a afirmar que a consolidação de crédito deve ser considerada como uma solução de recurso "apenas em casos de necessidade urgente em diminuir as prestações, pelo incumprimento das prestações a pagar". O responsável assume que "dificilmente as pessoas conseguirão uma consolidação se não tiverem uma habitação para dar como garantia" e alerta para o facto de, apesar da consolidação permitir alargar o prazo temporal de pagamento e oferecer taxas de juros mais baixas, aliviando no imediato o valor das prestações, "acaba por ficar mais caro, a longo prazo".
Em resumo, "o principal objectivo da consolidação de crédito é obter uma redução, no imediato, dos encargos das empresas e das famílias, adequada às suas reais capacidades de pagamento", explica João Martins.
Entre as principais vantagens desta solução está a "possibilidade de ter uma única prestação, inferior à soma das prestações existentes, pagar menos juros e prazo até aos 75 ou 80 anos de idade, o que permite utilizar o prazo para adequar o valor da prestação à disponibilidade financeira do agregado familiar", explica Hélder Beça. O mesmo responsável enumera ainda algumas desvantagens na consolidação de créditos. "Quando o cliente possui um crédito habitação com ‘spread' muito baixo e em que o ‘spread' no âmbito da consolidação seja mais elevado", por exemplo. Nestas situações, "o cliente terá que ponderar se a necessidade de redução de encargos mensais é mais importante que o benefício do ‘spread' mais baixo". Por esta razão, o mesmo responsável reforça que "nem todas as consolidações são vantajosas, devendo ser efectuadas por especialistas para que o cliente não saia prejudicado."
fonte:economico