Bancos vão passar a controlar salários em atraso e processos judiciais, entre outros.
Os bancos terão de passar a detectar precocemente situações de clientes em dificuldades financeiras, numa óptica de gestão do risco interno da instituição mas também para efeitos de actuação preventiva de incumprimento por parte desses clientes. Subjacente a essa avaliação estará um conjunto de indicadores que os bancos passarão a incluir numa análise contínua. Assim, se tem um crédito bancário ou pretende contratar um, situações como a devolução e inibição do uso de cheques, dívidas ao fisco e segurança social, participação em processos judiciais e situações litigiosas ou a ausência de documentos contabilísticos há mais de 18 meses colocá-lo-ão numa lista bancária de clientes em dificuldades financeiras.
O leque de indícios que permitirão aos bancos aferir das condições financeiras dos clientes constam de uma nova instrução do Banco de Portugal, a ser publicada dia 15 de Maio, que obrigará os bancos a registarem nos sistemas de informação todo o crédito que tenha sido reestruturado por dificuldades financeiras do cliente. A reestruturação de créditos tem sido, principalmente no último ano, a solução encontrada por bancos e clientes para mitigar situações de incumprimento e, em muitos casos, a respectiva penhora de bens. Uma solução que inclui o alargamento do prazo da dívida, períodos de carência, diferimento de capital, entre outras.
Tanto o regulador nacional, como a própria ‘troika', têm dedicado recentemente especial atenção a este tema. Do ponto de vista das instituições de crédito, o alargamento dos indicadores da avaliação financeira dos clientes permitirá o reforço dos mecanismos de gestão de risco dos bancos, e permitirá ao Banco de Portugal exercer de forma mais eficiente a supervisão prudencial. Mas a medida terá igualmente impacto na relação com o cliente.
A lista de indicadores agora publicada oferece fortes indícios de como os bancos farão a detecção precoce de situações de risco de incumprimento, uma medida que se encontra também a ser preparada pelo Banco de Portugal. Um novo regime jurídico que obrigará os bancos a contactar os clientes identificados como oferecendo risco para a instituição e à rápida apresentação de soluções por parte do banco para prevenir o incumprimento. Ou seja, mesmo que não tenha falhado nenhuma prestação até à data, é possível que venha ser contactado se incorrer em alguns dos indicadores apresentados. A saber: incumprimentos registados na Central de Responsabilidades de Crédito, degradação acentuada da classificação interna de risco do banco, activação de garantias bancárias, falência, insolvência, salários em atraso, penhora de contas bancárias, alteração ao pacto social com impacto na capacidade de gestão, violação de contratos celebrados com a instituição, além das já referidas anteriormente. Além disso, num momento em que as instituições estão mais atentas do que nunca ao nível de risco dos clientes, é possível que esta nova forma de avaliação venha a pressionar ainda mais a capacidade dos clientes, principalmente empresas, acederem ao crédito.
Crédito reestruturado aumentará imparidades dos bancos
Os bancos terão de passar a registar nos respectivos sistemas de informação todo o crédito que tenha sido reestruturado por dificuldades financeiras do cliente. De acordo com o Banco de Portugal, cuja instrução será publicada a 15 de Maio, produzindo efeitos a partir desse dia, este nova forma de registo terá efeito, entre outros, na determinação de imparidades dos bancos. No entanto, de acordo com fonte do mercado, não é ainda líquido que este aumento de imparidades obrigue a um reforço de provisões por parte dos bancos que, em última análise, seria repercutido
nos resultados das instituições. Na linha da frente no que toca ao registo do crédito reestruturado por dificuldades financeiras do cliente estarão
os 50 maiores dos clientes (grupos) dos bancos, bem como as empresas de promoção imobiliária e de construção civil, cujo registo terá de estar concluído até 31 de Julho de 2012. Até final de Setembro as instituições deverão ter a identificação dos restantes créditos reestruturados concluída. O reforço do controlo dos mecanismos de gestão de risco, bem como da supervisão prudencial tem sido uma preocupação do regulador, principalmente desde a entrada da ‘troika' no país, que já no final de 2012 introduziu o indicador de crédito em risco, onde aliás já está incluído o crédito reestruturado.
fonte:http://economico.sapo.pt/n