Pagamento da dívida a 100% dentro dos limites permitidos pelos cartões de crédito é a melhor forma de utilizar este recurso. A segunda é optar pela instituição que oferece a taxa de juro mais reduzida.
Com o poder de compra diminuído pelos cortes salariais, o aumento dos impostos e a subida da taxa de desemprego, os índices de consumo têm evoluído em queda. Segundo a Associação Nacional para o Registo de Equipamentos Eléctricos e Electrónicos (ANREE), em 2011 os portugueses compraram menos 15% de produtos electrónicos face a 2010.
O desemprego e a diminuição dos salários reais farão com que Portugal tenha uma quebra recorde no consumo privado, segundo as últimas previsões da Comissão Europeia. Este ano, os gastos das famílias vão recuar 6,1% e em 2013 a tendência mantém-se.
Desde que a crise começou, o recurso ao crédito "revolving", no qual se inclui a utilização de cartões, sofreu uma quebra significativa. Em 2009, desceu 38% e em 2010, 19%. No ano passado, o corte não se fez sentir tanto (menos 3%), fruto da descida gradual dos anos anteriores. Os dados vêm da ASFAC - Associação de Instituições de Crédito Especializado e segundo a sua secretária-geral, Susana Albuquerque, se um consumidor tiver de recorrer a crédito para fazer uma compra, o mais importante é encontrar uma taxa de juro reduzida.
"Uma boa compra, independentemente de ser paga a pronto pagamento ou a crédito, é aquela em que o consumidor necessita do bem e o adquire a um preço interessante", diz. Por isso, adquirir bens ou serviços sem juros ou a preços baixos não é, de todo, uma boa opção em contexto de crise, de acordo com a especialista em finanças pessoais.
Um cartão por pessoa
O número de cartões que cada família deve ter depende do seu agregado. Contudo, para Susana Albuquerque, o ideal é que cada um dos cônjuges não tenha mais do que um cartão pessoal, para que consiga controlar os gastos e manter as finanças supervisionadas. "Se as contas forem juntas, pode haver um cartão para os dois titulares, o que implica que ambos partilhem informação sobre a utilização do cartão", acrescenta.
Para evitar uma utilização desmedida deste tipo de empréstimo, a especialista indica que a melhor forma de controlar os gastos é através do seu extracto, como se de uma conta à ordem se tratasse. Desta forma, no final de cada dia de utilização, anota o que gastou e onde. "Assim, tem consciência de quanto terá de pagar no final do mês seguinte, caso opte pela modalidade de pagamento a 100%, que é a melhor forma de usar o cartão de crédito a nosso favor, pois nunca se pagam juros."
Dependendo do tipo de cartão, há vantagens associadas à sua utilização. Existem cartões que oferecem o seguro de viagem se a pessoa pagar a mesma através do cartão de crédito, entre outros exemplos. "Ultimamente, temos assistido ao lançamento de cartões que devolvem uma parte dos montantes pagos com o cartão, até um limite definido, para contas poupança. O importante é conhecer as várias opções disponíveis no mercado e escolher a que melhor se adequa ao perfil do utilizador, pagando sempre o montante total em dívida de forma a evitar o pagamento de juros."
Para utilizar o crédito sem gastar mais, baste que utilize o período de crédito grátis, em que o utilizador não paga juros e o dinheiro é debitado dentro do prazo acordado. Este, regra geral, que pode variar entre 20 e 50 dias. O único custo associado a este tipo de utilização é o da anuidade.
Perdeu o controlo?
Se chegou a uma situação de descontrolo das dívidas contraídas com os seus cartões de crédito, junte todos os extractos, some e verifique qual é o valor em dívida. Segundo Susana Albuquerque, esta deve ser a primeira acção a tomar. Depois, há que definir um plano de pagamento para acabar com as prestações em atraso. Este pode passar pela transformação da dívida numa dívida fixa. Se tiver dificuldades contacte os organismos que podem ajuda-lo, como o Gabinete de Apoio ao Sobreendividado, da Deco (Associação Portuguesa para a Defesa dos Consumidores), ou o Gabinete de Orientação ao Endividamento dos Consumidores, do ISEG. "Após tudo estar sob controlo, sugiro que, para evitar novos descontrolos, passe a usar apenas um cartão", conclui a secretária-geral.
5 Dicas para uma utilização eficaz
1. Exclua os luxos
Num clima de austeridade como o que Portugal vive, é importante que cada consumidor compre apenas o que necessita para o seu dia-a-dia. Se tiver de comprar a crédito, encare esse facto como se de uma compra a pronto-pagamento se tratasse. Não se endivide por causa de bens que não sejam de primeira necessidade.
2. Pondere os custos
Antes de optar por comprar o bem de que precisa a crédito, compare a diferença entre este método e o do pagamento a pronto. Esta é uma questão essencial para saber se deve avançar com a aquisição do produto. Se os custos do crédito forem demasiado elevados, pode valer a pena esperar, poupar e comprar sem se endividar.
3. Recorra ao orçamento familiar
O orçamento familiar ou individual é uma das principais ferramentas de gestão das suas finanças especiais, sobretudo quando o contexto é de corte na despesa e procura de aumento nas receitas. Antes de comprar seja o que for a crédito, consulte a sua folha de gastos mensais e verifique se o seu saldo, que deve ser positivo, comporta aquela despesa.
4. Use apenas um cartão
A oferta desenfreada de cartões de crédito que ofereciam brindes, vantagens, viagens, entre outras promoções, levou a que alguns portugueses recheassem as carteiras com cartões para todos os gostos e feitios. Mas os cartões trazem gastos, mesmo que esteja um ano sem os utilizar. Há sempre uma anuidade, uma comissão de gestão ou outro encargo que o banco retira da conta à ordem associada sem que dê por isso. De todos os cartões de que dispõe, escolha o que lhe oferece as vantagens mais competitivas e cancele os outros. É a forma mais fácil de evitar cair em tentação.
5. Faça uma análise diária
Sempre que utiliza o seu cartão de crédito, inclua essa informação no seu orçamento. Registe o dia em que fez a compra, o que comprou, em que modalidade e, caso opte por várias prestações mensais, não se esqueça de adicionar essa informação à sua folha das despesas, para que, no mês seguinte, não seja apanhado de surpresa.
fonte:http://www.jornaldenegocios.pt/